sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A verdade da mentira


Segundo as petrolíferas nacionais os preços praticados em Portugal são influenciados pelas cotações do mercado “Platts”, isto é, o mercado de produtos refinados que por sua vez é influenciado pela cotação do crude/petróleo, também conhecido pelo barril de Brent. O que se passa é que o petróleo quando é extraído do sub solo encontra-se em estado bruto, pelo que precisa que um conjunto de impurezas sejam retiradas; em Portugal apenas em Sines e a Galp possuem refinarias. Ora quer isto dizer que para se conhecer um valor mais real ou aproximado do custo do petróleo para as petrolíferas teríamos de conhecer os valores após refinação. Por esse facto as empresas declaram que devemos conhecer as cotações do mercado de produtos refinados (Platts) e só depois contestar a eventual descida ou não dos preços nos postos.

 O problema é que não é a refinação que influencia a descida ou subida das cotações dos combustíveis, mas sim o crude pois é este a variável crítica; a refinação é apenas um custo adicional mais ou menos fixo. Mas segundo o que a Sic apurou, e recorrendo ao mercado de produtos refinados, quando as cotações à uns meses atrás se encontravam a rondar as actuais, os preços eram mais baixos pelo menos 5 cêntimos de euro em litro! E para que dúvidas não subsistam importa referir que, segundo a Sic, foram levados em linha de conta as cotações do euro face ao dólar para que eventuais oscilações cambiais não afectassem a clarividência dos dados. O que mudou verdadeiramente é que à uns meses atrás o sentido da cotação dos produtos refinados era ascendente enquanto que agora é descendente. Isto em economia tem uma explicação, embora não seja de todo aceitável tal comportamento: a curva da procura de combustíveis em Portugal é muito inelástica, isto é, por muito que os preços subam ou desçam a quantidade procurada pouco se altera. Face a isto o comportamento lógico das petrolíferas é tentar manter os preços relativamente altos, pois a procura não se reduzirá muito, não existindo incentivo à redução dos preços, pois se o fizerem a procura não aumentará muito. Trata-se pois de saber o que é que compensará às petrolíferas, reduzir 5 cêntimos por litro para vender mais 100 mil litros ou manter os preços vender menos 100 mil litros… ora a escolha é óbvia, porque se vendem diariamente 21 milhões de litros, se reduzirem 5 cêntimos em litro, perdem 5 cêntimos em 21 milhões (ganhando apenas mais 5 cêntimos em 100 mil litros), enquanto de mantiverem os preços não perdem cêntimo nenhum apesar de deixar de ganhar os tais 5 cêntimos em 100 mil litros. Creio que se percebe.

 A partir deste momento, julgo que se compreende qual é a única solução para tudo isto. A solução é deixar de andar tanto de carro e tornarmo-nos menos dependentes do petróleo para que dessa forma não estejamos sujeitos a pressões internacionais e dependentes de países pouco fiáveis, aproveitando recursos endógenos como o sol, vento, água e bio massa.

 Muitos poderão criticar o facto de se ter liberalizado um mercado cujo os preços são tão resistentes à descida, contudo se não o fizéssemos poderíamos cair no mesmo erro de António Guterres que impôs administrativamente os preços dos combustíveis durante um ano, mas durante esse ano as cotações subiram (sem se reflectirem nos postos) acabando por os contribuintes a pagarem essa manutenção artificial de preços.

 Em suma, a bem de todos, seria benéfico que as petrolíferas fossem menos gananciosas e o público menos dependente.  

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