segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Empobrecer com ruído



Empobrecer com ruído!
O Dr. Medina Carreira antigo ministro das finanças do Professor Cavaco Silva, proferiu estas palavras que, no mínimo, nos fazem estremecer. De facto, o Dr. Medina Carreira, é conhecido pelo seu pessimismo crónico, mas há algo que não nos devemos esquecer: um pessimista, normalmente, está melhor informado do que um optimista. Para mal dos nossos pecados, penso que ele tem mesmo razão. Mas o que será que ele pretendia transmitir com isto? Vejamos ponto a ponto.
O processo de globalização desencadeou um fenómeno que é, no mínimo, irónico. Como as fronteiras nacionais foram sucessivamente abertas (abolindo-se o Estado-Nação), os países ocidentais, isto é, Europa e E.U.A. ficaram sem capacidade de se protegerem da concorrência feroz do Sudeste Asiático. Se é um facto que os países ocidentais aproveitaram-se do seu desenvolvimento económico e militar para explorar, outrora, os países subdesenvolvidos de todo o mundo, agora parece que esses mesmos países tomaram as rédeas do seu destino e tiraram proveito da globalização. Tudo isto é irónico, porque é um fenómeno liberal que permite uma ascensão, sem precedentes, de muitos pobres à classe média, em vários países como China, Índia e Brasil.
Note-se que sem este processo de globalização não teria sido possível à China iniciar uma ascensão tão rápida da sua indústria e, desta forma, retirar cerca de 200 milhões de pessoas da pobreza. Raciocínio idêntico pode ser feito para os restantes países envoltos num mega processo de desenvolvimento.
Até aqui tudo bem; mas pense-se no seguinte: se estes países do Sudeste Asiático conseguem produzir produtos a preços imbatíveis e, à medida que ascendem economicamente, desejam possuir o estilo de vida ocidental, então seremos obrigados a fechar as nossas empresas tradicionais, por um lado, e por outro veremos todos os bens essenciais que assumíamos como garantidos (arroz, massa, combustíveis, electricidade, etc) a subir de preços. Apercebam-se da encruzilhada em que estamos metidos, por um lado estamos a ficar sem indústria e, por outro, estamos a ficar com os bens essenciais mais caros!
Existe algo ainda mais ruinoso pela frente. Se não teremos industria compatível com a concorrência internacional, o que será feito dos impostos provenientes dos trabalhadores e dos lucros empresariais? Sem estes impostos como é possível prosseguir com um estado social? Se não seguirmos com o estado social, o que será feito da população crescentemente envelhecida e dos cuidados de saúde daí resultantes?
Pois, podem tirar as mãos da cabeça, porque há uma solução. Voltar ao proteccionismo de estado através das barreiras alfandegárias e desta forma salvamos a indústria europeia. Desta forma evitaríamos níveis de desemprego crescentes e conseguiríamos manter um estado social que é, sem dúvida, fundamental para as condições sociais que futuramente teremos.
Mas veja-se o caminho que tudo tem levado: aumento da precarização, diminuição dos salários reais (diminuição do poder compra) e aumento do desemprego. Isto acontece, porque os nossos dirigentes julgam ser capazes de competir à escala global sem levarem o seu povo a regredir civilizacionalmente. Não podem estar mais enganados!
É por nos estarmos aperceber disto que na Grécia a insurreição continua e em muitos sítios desencadear-se-á. Por isso, vamos empobrecer com ruído.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Que Natal?


Dizem que vem da Lapónia num trenó puxado por renas, voando. Uma história mágica que nos retira da realidade, por alguns dias.
 Não vem mal ao mundo, por as pessoas fugirem, momentaneamente, ao mundo competitivo, egoísta, irresponsável, individualista e desumano; mas a forma que as pessoas encontram para fugir a esse mundo é, também ela, egoísta, irresponsável e desumana. Paremos para pensar.
 Será que o ser humano não consegue encontrar a paz interior, sem ser através de um ímpeto consumista desenfriado? Onde está o espírito de amizade, confraternização e entre-ajuda na compra de mais um par de sapatos, mais uma camisola ou de mais um videojogo? Onde mora a responsabilidade daquele que prefere endividar-se ou esbanjar o subsídio de natal (aqueles que o têm) na compra de um presente, só para não ficar "mal visto" perante os outros?
 O mundo ocidental tornou-se no mundo das aparências, da imagem e da futilidade; um mundo que nos conduz ao desgaste psiquico e físico e, que mesmo assim, nos induz/guia fim-de-semana após fim-de-semana a amontoarmo-nos em shoppings, em busca de uma espécie de Santo Graal.
 Faço mais estas duas perguntas: Se criassem um fundo onde podessemos depositar o dinheiro desperdiçado nesta quadra, com o intuito de garantir educação e saúde aos amargurados de todo o mundo, em especial as crianças africanas, será que o fariamos? E porquê que apenas nesta quadra é que todos se tentam mostrar bondosos uns para os outros permutando presentes entre si?
 Relativamente à primeira pergunta, se não sebscrevessemos esse fundo, então estariamos totalmente arredados do verdadeiro espírito natalício. Quanto à segunda questão, eu respondo com uma tradicional festa realizada pelos nativo-americanos satirizando os brancos colonizadores, na qual faziam despertar um relógio ao meio dia, dizendo:"Chegou a hora de termos fome!"
 Parem e pensem...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Declaração "Universal dos Direitos" do Homem


 Ontem, dia 10 de Dezembro de 2008, comemorou-se os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Não quero falar da pouco importância que foi dada a esta data quer pelos governos mundiais quer pelo público em geral, contudo à algo que é preciso salientar: a utopia que continua a constituir grande parte dos artigos constituintes deste documento.

 Após uma guerra em que tremendas injustiças foram cometidas, em nome da superioridade da raça alemã por parte de Hitler e restantes dirigentes nazis, conclui-se que era necessário redigir um documento em que ficasse patente um conjunto de direitos que assistiam a todos os seres humanos, independentemente da raça, país, religião ou tez da pele. Atitude louvável, sem dúvida, mas estes senhores esqueceram-se de ler Maquiavel, pois a governação deve ter em conta aquilo que os seres humanos são e não aquilo que nós gostaríamos que os seres humanos fossem. Inevitável e infelizmente, o homem é o lobo de si mesmo, pelo que por mais dignificantes e morais que sejam um conjunto de valores, estes só serão adoptados se isso se traduzir numa vantagem para quem os usa; o que nem sempre acontece!

 O que faltou, então, foi retirar a declaração universal dos direitos do homem do alto do seu cadeirão de cristal e colocá-la em prática no dia-a-dia de cada um de nós, através da transmissão desses valores intergeracionalmente e esquecendo o egoísmo que o capitalismo, nos começa a colocar ferozmente. Alguns governos adoptaram parte deste documento nas suas constituições nacionais, contudo a evidente dificuldade da sua concretização e custos associados à sua aplicação continuam a fazer dele uma utopia, em alguns aspectos, mesmo nos países desenvolvidos. Mas se por força do sistema económico-social em que vivemos, o capitalismo, é impossível alcançar na totalidade os valores e objectivos da declaração universal dos direitos do homem, então comece-se pelo mais básico e por onde mais é preciso: na educação universal e cuidados básicos de saúde e habitação nos países menos desenvolvidos.

 Apesar de ser difícil, o que está em causa merece o empenho de todos.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Um hábito perigoso!


A crise financeira internacional continua a fazer as suas vítimas…em Portugal. Depois dos colapsos das grandes companhias de crédito e seguradoras internacionais existem algumas réplicas deste “terramoto” um pouco por todo o lado.
Para além do BPN, que ao que se vai apurando trata-se de um caso de polícia, onde se realizaram operações ilegais como ocultação de informação às entidades de supervisão através de offshore, surgiu uma pequena réplica desse grande terramoto: o BPP (Banco Privado Português). Este banco que até à pouco tempo era desconhecido da maioria dos portugueses, ameaça entrar nos bolsos de cada um dos contribuintes, se não se tomar as devidas precauções.
O BPP que entenda-se é um banco gestor de fortunas, no qual é necessário depositar um montante mínimo de €100000 (20000 contos) para poder constituir uma conta, agraciava os seus “afortunados” clientes através de elevadas rentabilidades. Contudo, já Keynes dizia: “Não há almoços grátis”. Quer isto dizer que o BPP para conseguir essas elevadas rentabilidades recorria a uma carteira de títulos de elevado risco (acções, fundos de investimento, short-selling, warrants, etc), o que em tempo de crise económico-financeira é o equivalente a acarretar prejuízos. Ora o BPP com base na sua actividade especulativa perdeu muito dinheiro e viu-se incapaz de solver os seus compromissos que tinha assumido com os seus clientes, no que toca à rentabilidade, pelo que tem de se endividar para honrar esses mesmos compromissos (sob pena de falência).
O governo português apresentou uma garantia de 20 mil milhões de euros para que os bancos nacionais se pudessem financiar no estrangeiro e a taxas de juro mais reduzidas; note-se que o estado não está a dar nada, neste momento, mas sim a ser um “fiador” no caso de incumprimento dos bancos nacionais. Sendo honestos, dificilmente aceitaremos uma falência da CGD, do Santander ou do BES, por isso é quase impossível o estado vir a desembolsar qualquer dinheiro por estas garantias.
Para além disto existe uma razão muito clara para que o governo ajude os bancos a superar esta crise e deixe de lado outras empresas, porque enquanto que um grande banco nacional é fundamental para a economia nacional, em termos de emprego e impostos, para além do risco de contágio de uns bancos aos outros (dada as participações e empréstimos que possuem uns nos outros), uma qualquer outra empresa não apresentaria risco de contágio a outras empresas do mesmo sector. Note-se que o mesmo não se pode dizer da Sonae ou de uma grande empresa como a Auto-Europa que em caso de situação económico-financeira gravosa seriam, certamente, protegidas pelo estado.
Até se percebe, então, a razão da intervenção estatal no caso BPN e na criação da garantia de 20 mil milhões, porventura já não se percebe tão bem a razão do governo proteger os seis bancos que vão emprestar 450 milhões de euros ao BPP garantindo os empréstimos. Pelo que foi transmitido, o estado penhorando os activos do BPP avaliados em 670 milhões de euros cobre o aval que dá ao consórcio de bancos, contudo é de estranhar que um banco na falência possua activos de 670 milhões de euros; já para não falar da mísera quota de 0,2% que o BPP possui no mercado, pelo que não apresentaria risco sistémico, no caso de falência. Ora não existindo risco de contágio no sistema financeiro, não faz sentido o estado proteger este banco pois está a diminuir a tarefa auto-reguladora do mercado e a isentar de culpas os accionistas e gestores desse banco.
Quando os accionistas e depositantes do BPP ganharam muito dinheiro procuraram socializar esses lucros? Se não, então porque querem eles socializar os prejuízos?