segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Evolução do dinheiro


Dinheiro. Dinheiro, o Deus Todo-poderoso, dos tempos modernos; por ele, se mata, se ganha inimigos, se arrisca em jogos de sorte ou azar, se trabalha uma vida inteira, enfim, ajoelhamo-nos a seus pés. Terá sido sempre assim?
Vejamos o seguinte: Os seres humanos, ao longo dos milénios, sempre tiveram necessidade de estabelecer trocas entre si, sobretudo, por incapacidade de uns construírem/repararem algo que outros conseguiam. Assim sendo, poder-se-ia pensar que a “necessidade” ou ambição pelo dinheiro foram sempre tão elevadas como nos dias de hoje, porventura isso não é verdade.
Não é preciso um exercício de reflexão muito complexo para percebermos a disposição anterior. A necessidade de possuir dinheiro resulta da necessidade de estabelecermos trocas com terceiros para obtenção de produtos ou serviços que não dispomos, pelo que dinheiro e necessidades estão, intimamente, ligadas. Mas não podemos cair no malogro de pensar que, mais necessidades se traduzem, imediatamente, em mais dinheiro; o que se verifica é que à medida que o progresso industrial e tecnológico se acentua, a produção de bens e serviços, também, se incrementou, logo à medida que mais bens e serviços são disponibilizados, mais se alargam as necessidades dos indivíduos. Deixamos de estar perante, apenas, necessidades fisiológicas, para passarem a necessidades de imagem e estatuto.
Perante o raciocínio anterior, depreende-se que nos primórdios civilizacionais as necessidades eram muito básicas, uma vez que a produção de bens e serviços estava muito limitada, o que implicava uma menor necessidade de dinheiro em circulação. Então o “culto” ao dinheiro, não é assim tão antigo como se poderia pensar!
Como terá sido então a evolução do dinheiro?
Ao contrário do que se possa pensar, o dinheiro nem sempre foi moedas e notas. Nos primórdios civilizacionais, nada mediava as trocas entre indivíduos; estávamos no período da troca directa. Trocava-se madeira por peles, peles por carne, carne por cavalos, etc. Evidentemente que era um sistema rudimentar e que não permitia o desenvolvimento do comércio, pois inerente às trocas teria de existir incentivo de ambas as partes em aceitar o produto que a outra pretendia remeter.
Como era patente a insuficiência do sistema em incentivar a troca, passou-se para o sistema de “moeda mercadoria”. Este sistema assentava numa mercadoria, amplamente aceite, que era trocada por todo o tipo de outros bens; era exemplo deste tipo de mercadoria, o sal. Daqui advém a palavra salário usada nos dias de hoje, porque as retribuições dadas aos trabalhadores eram feitas em sal. Esta preferência pelo sal e não por outra qualquer mercadoria, resultava da necessidade que as pessoas tinham de conservar as carnes, uma vez que era um meio de conservar ao longo de um vasto período de tempo, um alimento extremamente necessário à sobrevivência humana. Porventura, também este sistema apresentava inconvenientes, pois para se trocar os bens e serviços era necessário possuir sal, e nem sempre era fácil obter esse mesmo sal, pelo que para estabelecer as trocas estaríamos dependentes da sua obtenção.
Um subgrupo do sistema de “moeda mercadoria” foi o padrão-ouro, onde todos os países estabeleciam uma paridade da sua moeda nacional com uma quantidade de ouro, podendo se converter notas e moedas em ouro e vice-versa. Era, também ele, um sistema com bastantes inconvenientes, porque o ouro em vez de ser destinada à produção de material em ouro (onde era mais produtivo), estava a ser aplicado na cunhagem das moedas.
Assim se chegou ao dinheiro tal e qual como o conhecemos, isto é, notas e moedas com um valor facial assimilado por todos, mas que no fundo têm um valor intrínseco bastante inferior, pois aquele bocado de papel da nota de €500, não vale mais do que 10 cêntimos de euro. Trata-se de um sistema, extremamente, bem sucedido, pois permitiu a produção em massa, uma vez que não era necessário ter mais em conta se a outra parte aceitaria ou não “o nosso dinheiro”, as notas e moedas são de fácil “conservação” e até podemos depositar esse dinheiro num banco (que nos renderá juros) para que outros possam investir.
Poderíamos pensar que a história acabava aqui…mas mais uma vez estávamos enganados! Chegamos a fase de trocar dinheiro por dinheiro. Enquanto que nos antepassados, se trocava dinheiro (notas e moedas) por mercadorias para a satisfação das necessidades individuais, agora troca-se dinheiro por dinheiro, especulando e tentando usufruir rendimentos como se estivéssemos num casino planetário. Deturpamos a verdadeira natureza do dinheiro, isto é, facilitar, e repito facilitar, as trocas comerciais e por esse erro, estamos a pagar e continuaremos a pagar, até percebermos que o dinheiro por si só não é nada.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Cuidado com os Homens atrás da cortina!


Esta semana protagonizou-se mais um acto lamentável, por parte do ministério público. Mais uma vez, nos deparamos com a inabilidade de alguns membros dos ministérios nacionais na tomada de decisões e a vontade da imprensa de colar esta decisão ao primeiro-ministro Sócrates.
De facto, parece que se tem tornado moda, nos últimos anos, o surgimento de tiques ditatoriais. Estes tiques surgiram durante a governação de Cavaco Silva e agora com a governação de José Sócrates, isto é, sempre que nos encontramos em maiorias absolutas. Os ímpetos reformistas associados quer a uma quer a outra governação podiam “justificar” a tomada de algumas decisões, menos democráticas, dado o interesse que algumas dessas medidas acarretavam para o país. Mas não podemos cair no erro de assumir que uma ou outra actuação política é a mais ou menos correcta, pois ninguém detém a verdade absoluta dos factos, e se o fizéssemos, estaríamos a escancarar as portas para uma nova e mesquinha autoridade moral que, mais cedo ou mais tarde, se tornaria uma ditadura ou democracia musculada.
O estilo de governação de Sócrates é claro: ninguém deve contestar o líder e todos sabem quem manda; e os portugueses até gostam disso, pois séculos de inquisição e 40 anos de Salazarismo deixariam a sua marca em qualquer povo. Pessoalmente, não estou contra este estilo de governação, em períodos de colapso económico e social, pois é nestas alturas que a imposição de medidas difíceis têm que ser tomadas. Porventura, apenas o admito em situações de interesse nacional, e nunca em questões de carácter regional e mesquinha, como se sucedeu por várias ocasiões. Mas atenção: não tomemos a parte pelo todo. Não devemos julgar toda uma governação, com base em tiques levados a cabo por membros da administração central, embora admita que Sócrates não dê as indicações necessárias para que esses mesmos tiques, se extingam.
Este recente caso em Torres Vedras resultou de uma denúncia de um civil sobre umas imagens mais “picantes” que se encontravam coladas num Magalhães, isto é, estavam a fazer uma sátira ao computador e à possibilidade de as crianças acederem a conteúdos pornográficos através da Internet. Sinceramente, creio que o civil não estava preocupado com as imagens, até porque essas imagens não apresentavam nada de extraordinário, mas sim com a sátira ao Magalhães, isto é, este civil estava preocupado com a imagem do governo e do primeiro-ministro que certamente ajudou a eleger.
Inexplicavelmente, o ministério público acede à “prece” do cidadão indignado, sem sequer verificar as imagens contidas no computador. Certamente que nenhum cidadão gostaria de ver imagens de pornografia explicita na via pública, onde crianças estivessem a assistir, contudo nada disso se verificou neste caso, daí que eu rotule de inabilidade toda esta actuação do ministério.
Por outro lado, parece-me inadmissível que tentassem associar esta decisão a José Sócrates, só porque este é o “pai” do Magalhães. Não creio que o primeiro-ministro tenha muito tempo para se preocupar com uma sátira que surja neste ou naquele carnaval; o que me parece preocupante são as actuações destes “ditadorezinhos” que surgem no meio da administração central.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Francisco Louçã e o futuro


Chegou a hora de o Bloco de Esquerda assumir-se como a terceira força política de Portugal. Um movimento político tão novo e com tanta pujança nacional, deixa qualquer um estupefacto. Algo ainda mais intrigante prende-se com o potencial que existe para o conflito interno, tal é a diferença de ideologias de algumas facções, mas transformam essa adversidade numa potencialidade, uma vez que os diferentes pontos de vista são expressos, “sem tento na língua”, realizando-se um esforço de congregação de ideias que capta adeptos no exterior. Assim, PSR (Partido Socialista Revolucionário), a UDP (União Democrática Popular) e o Política XXI congregam-se num só e fazem as delícias dos dissidentes do Partido Comunista, Partido Socialista e mais diversos partidos de extrema-esquerda.
A crise anda na boca do mundo e as suas consequências são mortíferas para os trabalhadores e mais pobres. Como invoquei em post´s anteriores é nestas alturas que surgem os populistas e oportunistas, os pregadores de um mundo melhor que possuem soluções extraordinárias, soluções essas que só têm benefícios e poucas ou nenhumas consequências. Não estou a chamar populista a Francisco Louça, mas a sua atitude constante de contra-poder não fará sentido eternamente, visto que, se o eleitorado lhe garantir a terceira posição nas eleições legislativas, não lhe bastará criticar a banca, os patrões e o governo; terá de expor as consequências de uma nacionalização total da banca, as consequências da limitação dos despedimentos nas empresas com ou sem lucro e as consequências de um governo de esquerda, pura e dura, como seria o seu.
Não existem soluções milagrosas e Francisco Louça não é o messias “D. Sebastião”, pelo que se o rótulo de populista e demagogo quer evitar, urge ser mais esclarecedor. Não tenho nada contra as políticas de esquerda e crítico, veemente, o capitalismo selvagem que se instalou no mundo, contudo temos de ser responsáveis e não rompermos com a realidade. Veja-se a proposta apresentada na VI convenção do partido:

“Nós queremos proibir os despedimentos nas empresas que têm resultados”

A argumentação para defender esta proposta é extraordinária, sobretudo pelo uso da metáfora dos coelhinhos e das duas notas de 100 € numa caixa. A metáfora utilizada e a medida proposta pretendiam chegar a outra frase que é intemporal:

“O capital nada faz é o trabalho que tudo faz!”

Nesta frase resume-se uma luta muito antiga que gerou muitas discussões apaixonadas, e essas paixões são o capital e o trabalho. Por este conflito de valores e ideias, pessoas morreram, famílias foram separadas, cidades divididas e um clima de “Guerra-fria” se gerou, mas Francisco Louça gosta deste debate e por isso reclama: “É preciso voltar a trazer o capital e o trabalho para a discussão”.
A discussão, como disse, é muito antiga, mas após muitos anos de conflito e discussão acesa de intenções, ninguém chegou a consenso algum, a não ser que a parte oposta estava irremediavelmente errada. Ora, sendo assim, apenas coloco o meu ponto de vista; para analisarmos a questão da economia e da relação dos seres humanos uns com os outros temos de compreender a natureza humana, pois caso contrário podemos chegar a conclusões que não fazem o mínimo sentido na realidade em concreto. A realidade é esta: O homem é indiscutivelmente egoísta!
Esta característica é fruto de uma evolução e reacção da espécie a problemas que se lhe colocavam e o resultado foi este. Por isso, Adam Smith dizia algo muito semelhante a isto: “Quando o ser humano dispões de liberdade e segurança para prosseguir com os seus próprios interesses é capaz de gerar riqueza não só para si, como para toda a sociedade”. Mas como tudo que é excessivo torna-se pernicioso para a sociedade, o egoísmo passou a ganância e é por isto que surgiram as correntes de esquerda. Assim se compreende a frase de Karl Marx: “Como tudo que é produzido é fruto do trabalho, então se existe lucro, isso é fruto de trabalho não pago”.
Conclusões? Têm os dois razão, embora um se baseie naquilo que a sociedade é, e por isso, se tornou preponderante, enquanto que o outro se baseia naquilo que a sociedade devia ser, pelo que, um luta pela liberdade individual e o outro pelo sonho colectivo…
Louça não se insere nem num nem noutro, mas está claramente próximo do “sonho”, um dia veremos se a sociedade evoluirá de forma a permitir que esse sonho seja realidade, mas conhecendo a espécie humana como a conheço…

domingo, 8 de fevereiro de 2009

O regresso dos "ismos"


Uma vez li num livro a seguinte frase: “A história repete-se”. Nessa altura não entendia o significado daquela afirmação, mas com o passar dos anos foi-me apercebendo que não se tratava de uma ironia ou metáfora, mas sim de uma constatação.
Já, na publicação sobre o Islamismo e Policarpo, referi que o ser humano tinha tendência a assumir que aquilo que se passou no passado, não se voltará a repetir, sobretudo se for algo nefasto. Tantas são as vezes que tal acontece que por vezes estamos diante a catástrofe, mas ignoramos.
Pensávamos que após o holocausto, jamais existiriam tendências para o anti-semitismo (ao nível estadual); pensávamos que após a exploração e escravização que se verificaram na colonização, jamais estes fenómenos poderiam repetir-se; pensamos que estamos imunes a pragas ou epidemias, só porque a ciência observou uma inovação extraordinária; pensamos que os tempos do nacional-socialismo tinham terminado…
Vivemos num mundo que nos embriaga com televisão, futebol, cinema, enfim, entretenimento. E porquê? Enquanto estamos entretidos, não nos preocupamos com aquilo que nos rodeia. O ódio que Judeus e Muçulmanos nutrem uns pelos outros é algo muito próximo de anti-semitismo; o trabalho infantil e a exploração dos imigrantes são uma forma de exploração; vivemos sob a ameaça de uma pandemia mundial provocada pela estirpe H5N1 e, os cientistas afirmam que as bactérias e vírus estão a tornar-se resistentes aos fármacos produzidos, contudo nem nos damos conta que estamos à beira de um precipício; julgamos que as suásticas, os braços içados em direcção ao céu como uma flecha, o ódio ao emigrante e xenofobismo tinham terminado, mas o que é isto que começa a surgir na Inglaterra, Suíça e Islândia, se não um nacional-socialismo?
Gostava de expressar a minha opinião sobre este, recente, assunto que envolve a imigração. Parece-me evidente que, mais uma vez, o sistema político-económico vigente (o capitalismo) é incapaz de apresentar propostas convincentes, sobretudo no domínio social. Alias, só podia ser assim, pois o tão famigerado mercado auto-regulável para funcionar numa situação de crise, necessita de rédeas longas; começaríamos por um aumento dos despedimentos, o que provocaria uma redução dos custos de produção e por sua vez, baixaria os preços estimulando o consumo. Por sua vez como a oferta de trabalho no mercado seria superior, a pressão sobre os salários seria menor, pelo que o incentivo à contratação seria maior; aqui temos uma parte do mercado auto-regulável: sem intervenção, provocaria uma queda de salários, preços e mais desemprego, numa 1ª fase, até que numa fase posterior, teríamos redução de preços, aumento do consumo e mais emprego. O problema neste tipo de análise prende-se com o simples facto de estarmos a lidar com pessoas e não objectos, logo não nos podemos esquecer que a passagem da 1ª para a 2ª fase seria socialmente penosa. Este é o problema do capitalismo: a insensibilidade!
Em momentos de crise profunda, a contestação ao sistema é evidente. Mas, porquê é que este sistema é tão débil em momentos de crise? Porque razão o estado (sempre tão criticado) tem que vir em auxílio de tudo e todos?
O sistema capitalista foi uma designação atribuída pelos Marxistas a um sistema que se designa, verdadeiramente, por Individualismo Económico. O termo capital foi usado de forma pejorativa, para criticar a importância que o dinheiro ganhava na sociedade e a ganância que provocava nos seus detentores, pois capital permitia realizar mais capital através da exploração do único factor criador de riqueza… o trabalho humano.
Neste sistema individualista, investe-se em função do benefício próprio e não em função do benefício geral, por isso o indivíduo só investe se tiver retorno desse investimento. Esse retorno é o lucro, que terá de ser superior à taxa de juro, caso contrário o capitalista preferiria ganhar dinheiro sem correr risco. Mas como é que ele obtém esse lucro? Produzindo através de uma força de trabalho que não é totalmente ressarcida do seu trabalho, o que permitirá vender com um preço superior ao custo de produção.
Este sistema funciona bastante bem, em períodos de prosperidade, porque ambas as partes conseguem retirar proveito da divisão do trabalho existente, e acréscimo de produção daí resultante, conseguindo obter os trabalhadores bens essenciais a preços que doutra forma seria impossíveis de obter. O problema surge em momentos de crise. Se por algum motivo, a procura abranda fortemente e as empresas deixam de vender, os capitalistas que acumularam durante anos, não estão dispostos a abdicar daquilo que ganharam, dispensando a “galinha dos ovos de ouro”, isto é, os seus trabalhadores. Daí que tenha de entrar o estado, ao estilo Keynesiano, estimulando a procura para recomeçar o ciclo de mais produção, lucro, logo necessidade de contratação.
Chegados a este ponto, percebemos o comportamento típico dos donos do capital. E qual é o comportamento dos trabalhadores? Será que em momentos de prosperidade comportam-se da mesma forma que em momentos e crise?
Em momentos de prosperidade, como são amplamente solicitados, esquecem-se que na realidade continuam a ser explorados, porventura sentem-se mais úteis ou indispensáveis. Em momentos de crise, como deixam de ser úteis, são colocados no “Exército Industrial de Reserva” (Karl Marx); nestas fases iniciam-se lutas entre a classe operária e a classe patronal, no sentido daquela recuperar parte dos benefícios que ajudou esta a obter, nem que seja através da manutenção do posto de trabalho. Mas, e agora vou chegar onde pretendo, em épocas de crise profunda, as classes operárias apercebem-se que não bastam reivindicações contra a classe patronal; iniciam uma luta contra os seus próprios colegas!
A mega-recessão de 1929 deixou indicações precisas, de como funciona a sociedade em situações de “vida ou morte”… primeiro eu e depois os outros, primeiro o meu povo e depois os outros, primeiro os da minha raça e depois os outros, primeiro os da minha família e depois os outros. O rastilho para o ódio àquele que é diferente acende-se, assim que se percebe que não haverá lugar para todos; é o instinto da sobrevivência! Assim surgiu o Salazarismo, o Franquismo, o Fascismo italiano com Mussolini e o Nazismo, isto é, surgiu o Nacional-Socialismo.
Em Fevereiro de 2009 passa-se algo que me faz pensar que os “ismos” podem estar de volta, pois frases do tipo, “Porque não voltam para o vosso país?”, “Empregos primeiro para os Britânicos!” e “Não deixaremos que os abutres entrem no nosso país”, são evidência do que nos espera: os tempos de prosperidade terminaram e o caminho para o proteccionismo abriu-se novamente.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Freeport



Este país é um país de modas. Durante uns tempos foi a “Casa Pia”, passado mais uns tempos foi o “Apito Dourado” e agora é o “Freeport”. Estas modas impostas pela comunicação social têm, todas elas, algo em comum: pouco rigor nos factos, interesses obscuros das redacções e “julgamentos na praça pública”.
Falemos do caso Freeport, porque está na moda e estamos fartos de todos os outros casos. Existe algo de intrigante, que salta à vista: o ressurgimento do caso, nas vésperas das eleições. Já se tinha sucedido em 2005 e, agora, surge em 2009. Inexplicavelmente, o caso esteve parado 4 anos, e fica a questão: Existirá alguma razão concreta para isto acontecer ou será fruto do acaso? Será resultado de intrigas político-partidárias?
Olhando mais de perto para os presumíveis interesses obscuros, se estes existissem, o seu alvo seria claro: o primeiro-ministro. Quem sairia beneficiado com o desgaste político provocado pelo caso? A resposta é óbvia.
Analisemos um pouco o que aconteceu e que envolve José Sócrates. Para a construção do empreendimento Freeport seria preciso alterar o ecossistema e modo de vida da fauna existente na região. A Quercus criticou o projecto e tentou impugná-lo, conseguindo dessa forma uma redução da área de construção. Apesar disto, uma pequena parcela do empreendimento, que inicialmente não se encontrava afectada ao projecto, pertencia à Zona de Protecção Especial (ZPE). Aparentemente é aqui que José Sócrates entra no caso, pois enquanto ministro do ambiente do governo do engenheiro António Guterres, alterou a classificação da zona, já numa fase de governo de gestão.
Segundo as autoridades britânicas, José Sócrates recebeu “umas luvas” para proceder àquela alteração. Até ver nada é explícito nas gravações, implicando José Sócrates a aceitar algo; o que me parece mais claro é o aproveitamento de alguns elementos da sua família, a usar o seu nome, para obter benefícios em proveito próprio. Portanto é inadmissível que estejamos a julgar o primeiro-ministro de Portugal na praça pública com base em insinuações. E já agora, ninguém tem culpa da família que tem.
Não pretendo com isto demonstrar confiança cega no primeiro-ministro, mas ele ocupa uma das funções mais importantes da nação e, como tal, precisa da confiança dos portugueses para o exercício da mesma. Alias, neste momento de instabilidade económica e financeira, o país não precisa de instabilidade política.
Por último, reflictamos sobre o papel da comunicação social. Será possível que um ou dois jornais possam levantar suspeitas sobre um dirigente político, forçando-o à demissão, sem que existam provas concretas para tal? Se este caso rebentasse a meio da legislatura, será que o primeiro-ministro aguentaria a pressão até ao fim?
Hoje, mais do que nunca, os meios de comunicação social devem estabelecer um equilíbrio rigoroso entre a vertente comercial e a obrigação de informar imparcialmente.