sábado, 5 de julho de 2008

Governo numa encruzilhada


A mais recente controvérsia nacional prende-se com as obras públicas. Ora o governo de José Sócrates apresentou um vasto programa de obras públicas que para além de, presumivelmente, estimular a economia nacional também tem um "cheirinho" a eleitoralismo. Como vivemos num país democrático, desde logo surgiram críticas a esta política económica. O problema é que, pelo facto de vivermos em democrácia não temos a certeza de que as críticas sejam construtivas ou mesmo sérias. Repare-se bem nas críticas lançadas por Manuel Ferreira Leite: "O país não tem dinheiro para nada." Ok, sem nada a dizer, mas será que quando a Dr. Manuela Ferreira Leite era ministra das finanças no governo de Durão Barroso havia dinheiro para obras? Se não conhecessemos a Dr. Manuela Ferreira Leite eramos tentados a corroborar a ideia de que não foi no tempo dela que se assinaram acordos para a construcção do TGV com mais ligações a Espanha do que a actual proposta, não foi no tempo dela que se definiu a construcção no novo aeroporto internacional de Lisboa na Ota (uma decisão que viria a ser constestada fortemente), não foi no tempo dela que o Dr. Paulo Portas gasta mil milhões de euros (200 milhões de contos) na aquisição de três submarinos e não foi no tempo dela que o governo acaba por financiar os estádios de futebol para o euro 2004. Um pouco de seriedade política não ficava mal a ninguém...

Estamos numa crise económica internacional, isso ninguém contesta. Mas o que fazer contra esta crise? É reconhecido que a margem de manobra dos governos europeus, actualmente, é muito reduzida em termos de actuação conjuntural, porque não dispõe de uma política monetária (controlada pelo BCE) e na política orçamental temos muitas restrições, pois estamos vinculados a compromissos, e bem, com Bruxelas para manter o Déficit público em % do PIB abaixo dos 3%. Bem mas então os governos nacionais servem para quê? Figura de presenta? Para que se sinta que estamos numa democracia?

Nesta situação encontramo-nos perante um choque petrolífero que coloca os países com uma recessão e um aumento da inflação, algo duplamente negativo, colocando os governos nacionais europeus perante um dilema: estabilizar a conjuntura permitindo que a inflação aumente ou estabilizar a inflação e provocar uma recessão ainda maior. Uma vez que a inflação fica a cargo do BCE e uma política orçamental expansionista numa União Económica Monetária é muito eficaz, o nosso governo nem olhou para trás. Pois é que não convém esquecer que as eleições são já em 2009 e só com votos é que se renova uma maioria. Porventura tal política terá bons efeitos apenas a curto prazo, pois a economia nacional irá "aquecer" o desemprego diminuirá, momentaneamente, e as pessoas andarão um pouco mais bem disposta, até porque terão um aeroporto, um TGV e auto-estradas novas.

O problema é o que virá de seguida: como a economia cresceu por um estímulo orçamental e não por aumentos de produtividade, a inflação irá aumentar ainda mais, o que nos fará perder competitividade face ao exterior colocando as empresas nacionais com dificuldades acrescidas em exportar (uma vez que os seus preços crescerão mais do que os dos seus concorrentes). Os juros da dívida acumulada nacional irão começar a ser de tal modo pesados que apenas os juros poderiam construir alguns hospitais regionais todos os anos; a dívida acumulada para o futuro será tão pesada que eu e todos aqueles que pertencem à minha geração terão um nível de impostos ainda mais pesado do que o actual.

Nem tudo é mau, pelo menos teremos equipamentos modernos, com rentabilidade duvidosa, mas quem sabe o que será estratégio no futuro...há quem diga que é preferível o TGV ao aeroporto, porque com a escalada dos combustíveis os preços para viajar de avião serão insuportáveis, pelo que a alternativa mais exequível será o TGV.

Bem entre uma política do não fazer nada ou melhor "não há dinheiro para nada" e a do "há dinheiro para tudo" venha o diabo e que escolha.


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