quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O mundo é um enorme palco de interesses


Para percebermos como toda este conflito de elevadas proporções regionais teremos de regressar à implosão da ex Jugoslávia. Depois da grande Jugoslávia, “não-alinhada”, de Tito parece que Slobodan Milosevic foi incapaz de manter unido toda esse grande país. Também é muito questionável que essa “união” existisse de forma pacífica, pois não se consegue explicar que apenas numa década surgisse tantas facções independentistas nessa região. Sempre que, por algum motivo, dentro de um país com várias etnias, umas são favorecidas face a outras ou/e as suas culturas são indiscutivelmente diferentes, dificilmente esse país será capaz de manter uma paz duradoura.
Todos os povos têm aspirações legítimas à autodeterminação e nenhum estado deve perturbar essa pretensão sobretudo quando essa pequena região está única e invariavelmente povoadas por essa mesma etnia. Repare-se que não se está a falar de um povo que emigrou para um país, por lá ficou e agora quer independência, mas sim de um povo que sempre lá viveu, uniu-se a um outro país ou federação sem que fosse a sua vontade e neste momento pretende seguir a sua “vida” autonomamente. Assim aconteceu na Jugoslávia, no colonialismo Europeu e no imperialismo Soviético. Basta que sejamos democráticos e coloquemos a questão desta forma: Como podem os Kosovares quererem ser governados pela Sérvia, se no Kosovo a maioria da população é Albanesa e tem costumes e culturas irremediavelmente diferentes? Como podem os Kosovares serem governados pelos Sérvios se as decisões de Belgrado podiam ser contrárias à maioria das preferências da população albanesa da região? Como podem os Tibetanos poderem ser governados pelos Chineses quando as culturas são radicalmente diferentes e a cultura tibetana é reprimida? Como podem os Ossetianos e os Abezaques serem governados pelos Georgianos quando na verdade sempre se sentiram mais Russos que Georgianos?
De facto entre em conflito dois princípios: o da autodeterminação, que se traduz na possibilidade de um povo poder seguir com paz e autonomia a sua governação e desejo da população em geral, e o da inviolabilidade das fronteiras nacionais, que se traduz no direito que um país possui em defender as suas fronteiras. Ora entre estes dois princípios, e partindo do pressuposto que um determinado povo sempre viveu na sua região e foi obrigado, posteriormente, a integrar uma determinada federação de estados, prefiro o da autodeterminação dos povos.
Apesar de não me agradar o novo tipo de gestão impulsionada por Putin na Rússia que faz lembrar o que de mais negativo existia na antiga União Soviética parece claro que os Russos deviam defender os cidadãos Ossetianos e Abezaques, maioritariamente, pró-Russa. Também não podemos ser ingénuos ao pensar que a Rússia lançou a sua ofensiva sobre a Ossétia do Sul apenas para afastar as tropas georgianos que, teoricamente, estavam a promover uma limpeza étnica, isto porque, é conhecido do público que a Geórgia e a Ucrânia manifestaram o seu desejo de aderir à NATO, o que se traduziria em governos pró-ocidentais que não teriam nenhum repúdio em colocar bases militares ou mísseis americanos apontados a Moscovo. Para alem disso não se pode ignorar o facto de existirem extensos oleodutos a atravessarem a Geórgia em direcção em mar Negro, bem como um em construção entre Baku (Azerbeijão), Tbilissi (Geórgia) e Ceyhan (Turquia) que pretende tornar a Europa independente do petróleo russo e dessa forma da principal arma de arremesso dos russos contra a Europa. Este talvez seja o principal motivo da invasão russa, isto é, destituir a todo o custo o actual governo Georgiano e implementar um governo pró-Russo.

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