terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Um hábito perigoso!


A crise financeira internacional continua a fazer as suas vítimas…em Portugal. Depois dos colapsos das grandes companhias de crédito e seguradoras internacionais existem algumas réplicas deste “terramoto” um pouco por todo o lado.
Para além do BPN, que ao que se vai apurando trata-se de um caso de polícia, onde se realizaram operações ilegais como ocultação de informação às entidades de supervisão através de offshore, surgiu uma pequena réplica desse grande terramoto: o BPP (Banco Privado Português). Este banco que até à pouco tempo era desconhecido da maioria dos portugueses, ameaça entrar nos bolsos de cada um dos contribuintes, se não se tomar as devidas precauções.
O BPP que entenda-se é um banco gestor de fortunas, no qual é necessário depositar um montante mínimo de €100000 (20000 contos) para poder constituir uma conta, agraciava os seus “afortunados” clientes através de elevadas rentabilidades. Contudo, já Keynes dizia: “Não há almoços grátis”. Quer isto dizer que o BPP para conseguir essas elevadas rentabilidades recorria a uma carteira de títulos de elevado risco (acções, fundos de investimento, short-selling, warrants, etc), o que em tempo de crise económico-financeira é o equivalente a acarretar prejuízos. Ora o BPP com base na sua actividade especulativa perdeu muito dinheiro e viu-se incapaz de solver os seus compromissos que tinha assumido com os seus clientes, no que toca à rentabilidade, pelo que tem de se endividar para honrar esses mesmos compromissos (sob pena de falência).
O governo português apresentou uma garantia de 20 mil milhões de euros para que os bancos nacionais se pudessem financiar no estrangeiro e a taxas de juro mais reduzidas; note-se que o estado não está a dar nada, neste momento, mas sim a ser um “fiador” no caso de incumprimento dos bancos nacionais. Sendo honestos, dificilmente aceitaremos uma falência da CGD, do Santander ou do BES, por isso é quase impossível o estado vir a desembolsar qualquer dinheiro por estas garantias.
Para além disto existe uma razão muito clara para que o governo ajude os bancos a superar esta crise e deixe de lado outras empresas, porque enquanto que um grande banco nacional é fundamental para a economia nacional, em termos de emprego e impostos, para além do risco de contágio de uns bancos aos outros (dada as participações e empréstimos que possuem uns nos outros), uma qualquer outra empresa não apresentaria risco de contágio a outras empresas do mesmo sector. Note-se que o mesmo não se pode dizer da Sonae ou de uma grande empresa como a Auto-Europa que em caso de situação económico-financeira gravosa seriam, certamente, protegidas pelo estado.
Até se percebe, então, a razão da intervenção estatal no caso BPN e na criação da garantia de 20 mil milhões, porventura já não se percebe tão bem a razão do governo proteger os seis bancos que vão emprestar 450 milhões de euros ao BPP garantindo os empréstimos. Pelo que foi transmitido, o estado penhorando os activos do BPP avaliados em 670 milhões de euros cobre o aval que dá ao consórcio de bancos, contudo é de estranhar que um banco na falência possua activos de 670 milhões de euros; já para não falar da mísera quota de 0,2% que o BPP possui no mercado, pelo que não apresentaria risco sistémico, no caso de falência. Ora não existindo risco de contágio no sistema financeiro, não faz sentido o estado proteger este banco pois está a diminuir a tarefa auto-reguladora do mercado e a isentar de culpas os accionistas e gestores desse banco.
Quando os accionistas e depositantes do BPP ganharam muito dinheiro procuraram socializar esses lucros? Se não, então porque querem eles socializar os prejuízos?

1 comentário:

O Conspirador disse...

boas!
Descobri o teu blog por mero acaso e devo dizer-te que fiquei agradavelmente surpreendido, com a lucidez da tua escrita.
Li alguns post e partilho igualmente de muitas das tuas reflexões.
Cumprimentos