sexta-feira, 26 de junho de 2009

Ronaldo e a Especulação


À dias li num jornal uma frase que me deixou a pensar: “A venda do Cristiano Ronaldo é um exemplo que a velha economia especulativa não morreu”.
A frase entrou-me pelo cérebro dentro como um trovão. Pensava que aqueles que nos tinham conduzido a esta crise e, em particular, os métodos que usavam para beneficiar o mais possível e o mais rapidamente de lucros “artificiais”, tinha acabado, contudo concluo que continuam a existir resquícios da velha ordem.
O que é isto da especulação? A especulação é um acto onde os intervenientes estão interessados em ganhar/fazer dinheiro através da compra e venda de activos, sejam eles ouro, cereais, petróleo, acções ou … jogadores de futebol. Quando alguém compra acções em Junho e vende-as em Julho, diz-se que o investidor teve um comportamento especulativo, pois o objectivo não era fazer parte do capital da empresa e beneficiar dos lucros (dividendos), mas sim ganhar dinheiro (mais-valias) através da compra e venda das acções.
Como está bom de ver, sempre que uma economia anda ao sabor deste tipo de fluxos monetários, não tardará a ter um bolha especulativa e a colapsar, visto que, em vez de se investir produtivamente, investe-se financeiramente como se estivesse num mega-casino.
O que terá então esta transferência de especulativa? Já pensaram como é que o Real Madrid está a pensar pagar a transferência de 94 milhões de euros?
Simples. O Sr. Florentino Pérez pediu um empréstimo a dois bancos espanhóis no montante de 300 milhões de euros, tendo única e exclusivamente como garantia que pagará o empréstimo, a venda dos direitos televisivos, campanhas publicitárias e venda de artigos desportivos. Isto é: este senhor compara o Futebol a Hollywood, onde o que interessa não é se o filme é bom ou não, mas sim se o Tom Cruise entre no filme, fazendo do Real Madrid uma espécie de Disneylandia do futebol.
Quer isto dizer que, o Real Madrid está entre a espada e a parede em termos financeiros, visto que para garantir que pagará os seus empréstimos necessitará de vender os direitos televisivos por uma enormidade, encher o Bernabeu todos os jogos e vender loucamente camisolas e calções; e do que está dependente tudo isto: da qualidade do jogo dos seus jogadores.
Reparem só na sustentabilidade disto: basta que o Ronaldo comece a gostar da noite espanhola e Kaka deixe de ser um “santinho” e todo aquele raciocínio vai por água abaixo. Então a transferência é especulativa, porque alguém acha que comprando um jogador, por si só, será capaz de vender mais camisolas, ganhar mais nos direitos televisivos e ganhar mais em publicidade. O que é que isto tem de produtivo ou sustentável? Nada! São meras especulações ou conjecturas.
O Sr. Blatter disse que quando se comprava um Picasso também se pagavam enormidades e, disse ele, “O quadro fica guardado numa sala, onde ninguém o verá, enquanto o Ronaldo poderão vê-lo todas as semanas.”
Do que o Sr. Blatter se esqueceu é este tipo de quadros não são comprados para “fazer dinheiro”, por isso é que ficam em locais onde ninguém os vê, mantendo o seu valor ao longo de muitos anos, enquanto o Ronaldo vasta uma entrada mais dura para lhe partir uma perda e 94 milhões se perderem.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Chulos??!!



Aos poucos e poucos, apercebo-me que Einstein tinha mesmo razão quando afirmava que existia duas coisas infinitas no universo: o próprio universo e a estupidez humana!
Já se sabe que em tempo de crise, não se limpam armas, mas há por aí uns tipos que andam a exagerar. Em crise, já todos sabemos que nos encontramos, e as companhias aéreas não fogem a essa situação. São conhecidos os prejuízos das várias operadoras internacionais como a TWA, France Air Lines, TAP, ALITALIA e a própria British Airways e as soluções que encontraram para sair dessa situação. Enquanto que uns se coligam, reduzem margens de lucro, eliminam rotas menos rentáveis e/ou aumentam os preços, outros descobriram algo extremamente importante e que promete arrasar com a crise; trabalhar de GRAÇA.
Exactamente, trabalhar um mês, de GRAÇA. E como bom oportunista e populista que certamente será, o presidente-executivo da companhia British Airways já decidiu aderir. Ah pois, o exemplo vem de cima… mas esperem um pouco. Quanto é que ele ganha? Setenta e Dois mil euros por mês ( €72000/mês). Este chulo apressou-se a dizer que estava disposto a trabalhar um mês de graça, quando deveria ter dito que estava disposto a trabalhar 1 ano de graça!
Tentemos perceber, porque razão as companhias aéreas se encontram nesta situação. Antes de 2008, a maioria das companhias aéreas encontrava-se de perfeita saúde, porventura com a subida do preço do petróleo e, posteriormente, com a redução do nº de passageiros, os resultados entraram em colapso. Como é que os trabalhadores são responsáveis por esta situação? A resposta é que não são responsáveis.
O sector aeronáutico atravessa uma crise estrutural, visto que, mais tarde ou mais cedo, os preços dos combustíveis voltarão a subir ferozmente, e anda-se a tentar resolver esta situação com esquemas artificias de melhoria da rentabilidade das companhias.
Aqueles que advogam o trabalho voluntário para resolver esta situação, arriscam-se a “roubar” o lugar à Madre Teresa de Calcutá, pois os factores que estão a prejudicar as companhias aéreas, vieram para ficar, e por isso, estas pessoas terão de trabalhar não um mês de graça, mas sim 3, 4 ou 5.
Cada um é responsável de fazer o que bem lhe entender, inclusive trabalhar de graça, mas dever-se-ia tomar as devidas precauções para evitar que aqueles que recusarem trabalhar de graça, sejam despedidos ou perseguidos futuramente. Ah e se isto entra em moda, ainda vamos ver em Portugal alguns pseudo-empresários a solicitarem aos seus trabalhadores para laborarem um mesito “à borla”, porque o Mercedes que o patrão comprou o ano passado foi carito e este ano as encomendas estão curtas… é óbvio que o primeiro à abdicar do seu salário será o responsável do máximo da empresa que ganha mais 500% que os “voluntários”.
Chulos??!!



http://sic.aeiou.pt/online/video/informacao/NoticiasDinheiro/2009/6/crise-no-mundo.htm

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Profunda hipocrisia



Ontem, dia 7 de Junho, assistimos a um espectáculo degradante na TV nacional. Enquanto alguns estavam trombudos, outros, que é como quem diz “Todos menos um”, faziam festa e cantavam vitória. Vitória??
Como é que se pode cantar vitória quando a abstenção cifrou-se nos 62,8%? Como é possível cantar vitória, quando temos um resultado marginalmente superior ao da derrota das últimas legislativas? Será difícil perceber que foi o PS que perdeu e não o PSD que ganhou? E a governação futura do país, será motivo de sorriso para alguém? Esta lógica do poder a todo o custo, seja com mais ou menos custo para o país, já me enoja.
Fiquei muito desiludido com a actuação dos Portugueses nas eleições de ontem. Não pelo sentido de voto, mas pela sua imobilização. O descontentamento não se pode materializar em não votar. Alias, aqueles que o fazem, estão a aumentar artificialmente o poder do voto dos outros que vão às urnas.
Repare-se no ridículo da situação: a abstenção de 62,8% dá-nos a indicação que apenas que 37,2% dos eleitores votaram, isto é, cada cidadão que votou, fê-lo aproximadamente por 3 pessoas. Perante isto, aqueles que não votaram, pensando que fizeram alguma coisa, delegaram o seu futuro nas mãos de todos os outros. Não votando, não criticaram o sistema, não mostraram responsabilidade, não deram cartão vermelho a ninguém, apenas demonstraram a sua irresponsabilidade e falta de respeito por aqueles que lutaram para que, agora, pudessem votar; mais ainda, deram poder a uma minoria para decidir pela maioria.
O nosso orgulho e incompetência leva-nos a sacudir a “água do capote” criticando os políticos por tudo e mais alguma coisa que se passe na sociedade. A culpa não é só deles, porque os políticos são o espelho da sociedade em que vivem, logo se eles são ladrões e corruptos é porque nós também somos, se eles não sabem tomar as rédeas do país é porque nós não sabemos tomar as rédeas no nosso próprio destino. O que os portugueses querem e merecem é um ditador que os subjugue, que os censure, que lhes retire todos os direitos sociais e que tenha uma atitude paternalista. Assim já nos sentiremos mais confortáveis.
Querem que eu vos diga quem foi o grande vencedor das eleições de ontem? Foi o Bloco de Esquerda que se tornou, pela primeira vez, a 3ª força política e promete fazer estragos a seu favor nos futuros governos.
Temo pelo futuro deste país, porque Sócrates e Ferreira Leite afirmaram que Bloco Central, nunca. Francisco Louça avisou que nunca coligará com o PS. E o PS não morre de amores pelo Partido Comunista. Com o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista com 1/5 dos votos e PS e PSD com pouco mais de 50% dos votos, o país caminha a paços largos para a convulsão.
Com uma dívida pública a galopar, literalmente, com o deficit público atingir 6% do PIB e com a fragmentação dos votos, aquele que herdar o poder em Outubro arrisca-se a não ficar por lá muito tempo.
O que se passou ontem, não foi um aviso ao governo. Foi um aviso aos eleitores…

terça-feira, 2 de junho de 2009

Um mundo louco



Hoje vou dedicar-me ao estilo de vida frenético que temos, sobretudo, nas grandes cidades e o quanto isso nos poderá prejudicar.
Como será que os pais e mães deste mundo moderno se sentirão daqui por 20 anos? Terá valido a pena toda esta correria? Terá valido a pena, as filas de trânsito e a refeição rápida? Terá valido a pena, adiar a maternidade e, após a maternidade, mal vermos os nossos filhos a crescer?
Nunca consegui perceber o porquê de tanta agitação. Em tempos remotos, a jornada de trabalho era longa e penosa, ininterrupta e de sol a sol. Com o surgimento da revolução industrial atingiu-se um progresso, pois a semana de trabalho passava a ser constituída por 10 dias de laboração e 1 de descanso. Depois de muitos avanços e recuos, ao longo dos séculos, o cenário melhorou graças à progressiva inovação e desenvolvimento tecnológico, visto que, com menos meios (humanos e materiais) conseguíamos fazer muito mais. Porventura, a história não tinha terminado, pois em 1989 um muro fora derrubado e com ele, tinham sido derrubadas, as ideias utópicas de igualdade e prosperidade igualitária.
Aqui começa algo que eu não consigo compreender. O mundo continua a assistir a ondas de progresso tecnológico que nos permitem aspirar a um nível de vida confortável e agradável, contudo cada vez mais se acentua um desconforto, irritação e angústia nas pessoas.
Inexplicavelmente aumentam-se horários laborais, enquanto o desemprego aumenta; empresas com resultados positivos “obrigam” os seus trabalhadores a fazerem 10 e 12 horas diárias pelo mesmo salário das 8 horas “normais”, e estes aceitam; uma fila de trânsito ou uma palavra mais indiscreta pode levar-nos à loucura; mulheres retardam a maternidade ou não engravidam, para não serem despedidas; os filhos são relegados para segundo plano, passando mais tempo com amas ou funcionárias de creches, do que com os pais; os miúdos passam horas e horas, em frente à televisão ou à consola…“aos tiros”; à noite finge-se que se janta algo condigno, lançando uma pizza ou uns hamburguês para o micro ondas; finge-se que se passa tempo em família com os pais no sofá, ou um em cada canto, e os miúdos nos computadores, “aos tiros ou falando com desconhecidos”; para não nos sentirmos culpados do nosso egoísmo e desinteresse compramos-lhes telemóveis, roupas e gadjets, sem que estes tenham feito algo para o merecer, julgando que tudo na vida assim ocorrerá; gastamos fortunas com explicações, para não termos de nos preocupar com o seu acompanhamento e, ao fim de 12 anos, esperamos que entrem numa universidade qualquer para realizar um curso qualquer; ao fim de semana corremos para shoppings atolados de desconhecidos e compramos tudo e mais alguma coisa, como loucos, a fim de saciar a nossa angústia; na segunda-feira, tudo recomeça!
Resultado? Ao fim de vinte anos encontramos uma pessoa que estará a marimbar-se para aqueles que teoricamente o deveriam ter criado, que não está para se chatear muito com o seu futuro (tudo lhe fora sempre dado) e não sabe bem o que quer fazer da vida. Quanto aos seus criadores, gastarão todo o dinheiro que preferiram ganhar, em tratamentos de saúde ou morrerão de ataque cardíaco após muitos anos de stress ou de um dos vários cancros que assola a humanidade.
O que terão deixado para trás? Um vazio, uma tristeza e um mundo pior, em vez de uma sociedade sem desigualdades, em paz com a natureza, com edificações de louvar o engenho humano e extravasar os limites do conhecido.
Uma sociedade canibalista…